Qualificação valorizada no mercado de trabalho
Qualificação valorizada no mercado de trabalho
Vinculada diretamente ao desenvolvimento econômico e comercial, a Contabilidade vive um momento ímpar no Brasil, que desponta entre as principais economias do mundo. Acompanhando o salto do País, contadores ganham destaque no mercado de trabalho, não mais como meros profissionais encarregados de elaborar registros e balanços, mas como peça-chave em empresas e instituições que buscam análises estratégicas e orientações capazes de contextualizar negócios sob diversas óticas – todas pertinentes às competências do contador, mas não restritas a ele.
Entram no escopo de atuação do profissional Economia, Direito, Administração e Relações Internacionais, em uma relação que cresce continuamente, mostrando que a atividade contábil insere-se em diversos cenários desde que os profissionais estejam dispostos a buscar espaço e, principalmente, qualificação.
Atenta a essas mudanças desde muito nova, a contadora Roberta Salvini, vice-presidente de Relações com os Profissionais do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), apesar da pouca idade, possui uma bagagem acadêmica expressiva e inserida nas novas prerrogativas da profissão. Aos 34 anos, Roberta acumula três graduações (em Contabilidade, Direito e Administração) e mais um MBA em Direito Tributário, estudos que sempre conciliou com a atuação profissional, iniciada aos 14 anos. “Fiz a graduação em Contabilidade e Direito concomitantemente. Estudava Direito pela manhã, trabalhava no período da tarde e, à noite, a graduação em Contabilidade”, comenta. Depois de formada, os estudos prosseguiram com o MBA em Direito Tributário e mais uma faculdade. “Como tenho um escritório, resolvi, depois, cursar Administração, que atende tanto às minhas necessidades de formação para atendimento às demandas dos clientes quanto às de gestão dos negócios”, destaca.
Quando questionada, Roberta é enfática: “não advogo, apesar de formada, eu sou contadora e os cursos que fiz servem como bagagem para o meu trabalho”. As formações complementares garantem à contadora segurança e visão ampla sobre a área em que atua, o que, por sua vez, se reflete em qualidade do serviço que presta e na confiança que angaria junto aos clientes. Ainda assim, Roberta assegura que ingressará em novos cursos de pós-graduação.
A formação continuada, visando à qualificação e atualização, além de praxe na profissão, é o caminho para quem quer obter melhor projeção no mercado de trabalho e, principalmente, maior remuneração. “Um profissional que investe em MBA ou pós-graduação, tem, em média, 20% a 30% de upgrade em retorno salarial”, exemplifica Ricardo Munhoz, diretor executivo da Thomas Case & Associados, empresa especializada em consultoria em gestão e planejamento de carreira. “Além do mais, o profissional está se reciclando, montando networking, conhecendo pessoas diferentes e, obviamente, aprendendo”, acrescenta. Munhoz salienta que, com a prática crescente da Educação a Distância (EaD) fortalecida pela internet, não há desculpa para não se atualizar.
“A educação à distância ganha cada vez mais aceitação do mercado, principalmente das grandes universidades. Hoje, a gente vê que tem excelentes faculdades como FGV e Ibemec, que são muito bem vistas e têm critérios de avaliação teóricos. Os cursos são bem puxados, a carga horária é alta, o resultado é muito forte e o custo é menor”, argumenta, lembrando que viagens e falta de tempo não têm mais como justificar a falta de qualificação. O consultor ressalva que é fundamental, no entanto, buscar instituição de ensino de qualidade e reconhecida pelo Ministério da Educação.
A atualização, reforça Roberta, é imprescindível ao profissional de Contabilidade, mas a qualificação não deve estar restrita apenas aos cursos de qualificação e pós-graduação. É preciso demonstrar atitude para alcançar as melhores posições no mercado de trabalho. “O mercado, no geral, contrata por aquilo que a pessoa tem competência de fazer, não necessariamente pela sua complexa formação: pesa muito o comprometimento, a capacidade de execução e, especialmente, de se relacionar e trabalhar em grupo.”
Se, por um lado, a qualificação continuada tem seu peso, com dedicação de horas de estudos e investimento financeiro, por outro, reserva os melhores espaços e salários do mercado de trabalho. “Há carência de pessoas qualificadas, e isso inflaciona no mercado, porque o profissional bom não está disponível, ele é caçado. Depois de Engenharia, é a área que oferece os melhores salários”, pontua Munhoz.
Mercado globalizado e tecnológico exige novo perfil profissional
No contexto das novas tecnologias e da globalização, deter conhecimento e potencial para interagir com áreas congêneres garante espaço expressivo para contadores no mercado de trabalho. “A parte contábil, fiscal e de controladoria vem crescendo muito”, avalia Ricardo Munhoz, diretor executivo da Thomas Case & Associados. “O contador estratégico, que entra como um controller em uma grande empresa, é um profissional mais amplo e está tendo um destaque muito grande”, reforça.
A mudança não é tão recente quanto parece, mas um processo que vem se desenhando pelo menos desde a década de 1960, quando o curso de Contabilidade começou a agregar o ensino da profissão usando balanços contábeis. “Havia uma forte mensagem de que a Contabilidade boa era aquela que é um instrumento de gestão”, destaca o doutor em Controladoria e Contabilidade Eliseu Martins, que ingressou na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) em 1964. Embora não seja novidade, a ideia do contador vinculado à gestão empresarial nunca esteve tão em voga.
A demanda por profissionais capazes de orientar empresários e negócios amplia a visibilidade do contador. “É o profissional que está mais qualificado para integrar quadros de equipe de grandes empresas”, concretiza Roberta Salvini, vice-presidente de Relações com os Profissionais do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC/RS). “Se você colocar um administrador para auxiliar na gestão, ele vai saber fazer isso, mas ele não vai ter o conhecimento dos reflexos que algumas ações podem acarretar, enquanto que se você pegar um contador e colocá-lo para fazer o papel de gestor, ele, além de conseguir desenvolver bem essa atribuição, tem o conhecimento da dimensão dos riscos e das vantagens de algumas decisões ou não. Um bom contador é um bom empresário, e um bom empresário nem sempre vai ser um bom contador”, assegura.
Doutorandos em Contabilidade têm espaço garantido
O atual momento, que compreende mudanças na profissão, é, também, essencial para avaliar o cenário da educação em Contabilidade. “Toda vez que a gente tem mudanças normativas, são momentos ricos. Nesse processo, há mais chance para análise, ampliação”, reforça o professor emérito da FEA/USP Eliseu Martins. “Entre formação e informação, não podemos deixar de dar nem um, nem outro”, avalia. As mudanças profissionais impõem à Contabilidade mudanças acadêmicas e, nesse sentido, doutores ganham destaque.
A coordenadora do doutorado em Ciências Contábeis da Unisinos, Clea Beatriz Macagnan, exemplifica que, em comparação com outras profissões, a Contabilidade ainda forma poucos doutores, imprescindíveis à formação dos profissionais tanto de graduação quanto pós-graduação. “Nós temos apenas cinco cursos de doutorado em Contabilidade no Brasil, contra 40 em Administração”, conta. A Unisinos é a única instituição de ensino no Estado a ofertar o curso, que selecionou a primeira turma no ano passado. “Temos seis doutorandos, e todos eles já foram procurados para atender às demandas do mercado”, destaca Clea. “O doutor em Contabilidade é requisitado tanto pelo meio acadêmico quanto pelo empresarial”, acrescenta a coordenadora. O curso vai dobrar a oferta de vagas neste ano e selecionará 12 doutorandos para o próximo ano.
O contador e mestre em Administração de Empresas Humberto Girardi é um dos doutorandos da Unisinos e revela que a requisição do mercado de trabalho foi instantânea desde que iniciou o curso. “No começo deste ano, ao iniciar meu doutorado, eu optei por abrir mão dos cursos que eu ministro; mas, começando o doutorado, aconteceu o contrário: houve uma procura massiva, e agora estou assumindo aulas, dentro da minha possibilidade de agendas, para atender à demanda do mercado”, comenta.
“As perspectivas são muito boas, tanto na carreira docente (incluindo cursos, palestras etc) quanto fora dela, por atividades nas empresas”, destaca Luiz Marquezan, que concluiu mestrado no ano passado e já ingressou no doutorado pela Unisinos. “Em um doutorado, pesquisamos determinado assunto de forma profunda, o que permite o desenvolvimento de metodologias para captar e analisar os mais diversos temas, permitindo também ganhos pessoais. A capacidade crítica analítica é o principal deles”, ressalta.
Fonte: Jornal do Comércio